SAUDAÇÃO A DOM ARMANDO

Excelência Reverendíssima,
Estamos, de fato, iniciando a tão esperada primeira Visita Pastoral em Dom Basílio!
 Nesta hora, de todos os sentimentos possíveis, prevalece em nosso coração a alegria de poder recebê-lo como quem vem para nos ver, ficar conosco, a nós falar e nos ouvir. Enfim, estamos recebendo de modo diferenciado aquele que, para nós, e em nosso meio, é o vigário e legado de Cristo.
Não somos estranhos ao nosso Bispo, que tantas vezes, e por tantos motivos, nos visita, nos evangeliza e forma, conosco festeja e celebra, como também não mede esforços nem escolhe situações para nos socorrer, consolar e enxugar nossas lágrimas, quando a dor invade a alma e a morte nos assombra.
Mas, agora, estamos numa Visita Pastoral. Nestes dias de solene presença, Excelência, na vossa pessoa e no que ela representa, esperamos ver e sentir reavivar em nós a comunhão eclesial e a corresponsabilidade pastoral. Naquilo que nos compete, aqui estamos para avaliar nossa caminhada à luz das orientações, diretrizes, prioridades e projetos pastorais de nossa amada Diocese. Estão abertos corações e mentes aos estímulos de Vossa Excelência para que possamos assumir com mais empenho e sentimento eclesial os nossos trabalhos, em clima de verdadeira comunhão e colaboração.
Existem coisas claras, já conhecidas por vossa Excelência, mas que não me parece ser demasiado apresentá-las aqui, aproveitando o ensejo e a institucionalização deste acontecimento:
O que é próprio desta terra, onde se instalou, desde o alvorecer da segunda metade do século passado, a Paróquia de São João Batista de Dom Basílio? O ser dombasiliense começa se destacando pelo espírito de acolhida e solidariedade a todos os que chegam. Temos uma história de fé enraizada na religiosidade popular. O povo daqui é simples e é um povo bom, que gosta de fazer festa, mas que também se junta na hora da dor, é um povo solidário. Quantos e quantas, mesmo com os apelos contrários, ainda prezam pela honestidade, verdade e justiça! Há um empenho muito grande para se ganhar o sustento com o próprio trabalho. Desta terra e deste povo, que, com raras exceções, valoriza a educação e aprende a trabalhar desde cedo, já de há muito tempo se enriquece e enaltece os altos escalões da vida social, política, econômica e religiosa do país, merecendo particular destaque Dom Frei Basílio, quinto Bispo de Manaus, que honra este pedaço de chão dando a ele o seu próprio nome.
E como não recordar, nesta hora de alegria, tantos e tantas que fazem da vida um constante sacerdócio! Homens e mulheres se entregam, sem medo e sem reservas, à dureza do tempo, tantas vezes semeando sem colher, porque a chuva não vem, mas persistem incansáveis, semeando e esperando, por vezes, somente do céu, o jeito, o auxílio necessário para retirar da terra, honestamente, o próprio sustento e o dos seus! Tal persistência me emociona e, não poucas vezes, questiona-me e me confunde, Dom Armando. Como explicar tamanha fé e tenacidade?
Em termos pastorais, esta Paróquia se posiciona em uma situação confortável, desde o seu início, em relação a outras da nossa Diocese, como Vossa Excelência pôde ver no relatório preliminar, e por conhecê-la muito bem, pessoalmente: as distâncias não são demasiadas, as estradas são transitáveis, há assistência constante, as comunidades possuem infraestrutura boa, e há bastante leigos e leigas engajados no trabalho pastoral. Há uma sensibilidade religiosa e deferência para com a autoridade eclesiástica, que perpassa todas as faixas etárias e camadas sociais, embora se perceba que, aos poucos, a situação está mudando.
Nem tudo são flores...
Excelência, não seria o momento nem o lugar para acenar determinados temas, se não estivéssemos em família. Mas, na garantia de que estamos entre irmãos, com a docilidade e firmeza que o momento exige, apresentamos aqui nossas preocupações, pois, se os números em sua totalidade são animadores, confrontados com a realidade que representam, eles nos fazem questionar:
Somos ampla maioria de católicos, mas que tipo de fé professamos, qual ligação fazemos entre o que cremos, o que sai da nossa boca e o que testemunhamos no dia a dia, até mesmo no desempenho do trabalho pastoral?
Temos quarenta e duas comunidades eclesiais que funcionam com boa dose de amor e empenho das suas lideranças, onde se experimenta vivamente a fraternidade, mas ainda precisamos melhorar, porque há lacunas nuns lugares e limitações noutros, em termos de serviço.
Somos uma paróquia eminentemente festeira, festejamos inúmeros santos e santas ao longo do ano, até mesmo embaraçando uma festa na outra, mas – Vossa Excelência é testemunha, e mais de uma vez tem nos chamado a atenção por isso –  ainda não conseguimos passar dos eventos ao grande Evento que é o Cristo.
Temos comunidades tidas por grandes, com boa participação, contando com a constante presença do padre, e nos últimos anos, também do Irmão Edmundo. Entretanto, nessas mesmas comunidades, que recebem razoável formação ao longo dos anos, não se encontra um fiel sequer disposto a ser ministro extraordinário da sagrada Comunhão Eucarística, por mais insistências que tenham sido feitas.
Questões já superadas em outras realidades paroquiais quanto à liturgia, identidade eclesial, missionariedade da Igreja, catequese, administração dos bens, e outros pontos de relevância na e da vida paroquial, entre nós ainda são motivos para descaso, rixas e divisões, causando-nos dor e sentimento de perda de tempo.
Preocupa-nos sobremaneira, senhor Bispo, o relativismo religioso que começa a penetrar nossas comunidades, carcomendo convicções e padrões morais, merecendo relevância o descaso crescente ao sacramento do matrimônio, mesmo diante das facilitações que, através da paróquia, a Igreja oferece a seus filhos e filhas.
Temos, aproximadamente, 700 crianças inscritas na catequese de base em 2017. Que sociedade e que paróquia pretendemos deixar-lhes como legado, para que possam dar continuidade à caminhada?
Este ano, temos uma média de 350 crismandos inscritos. O numero é significativo, mas antevemos as evasões eclesiais, costumeiras também aqui, após celebrarem a crisma. Como introduzir esses adolescentes e jovens à vida eclesial durante a formação, para que, uma vez crismados, se tornem evangelizadores como fermento na massa?
Temos jovens presentes em nossas comunidades, que vivem sua fé; vários têm compromisso com a Igreja, mas muitos, a contragosto, veem-se obrigados a deixar a casa e a família em busca de melhores condições de vida, por inexistência de políticas públicas que os valorizem. Tal situação nos obriga a um constante recomeço.
Existem centenas de casais que são modelo de fé e vida, mas que não se reúnem como grupo para cumprir sua missão eclesial de evangelizar pelo testemunho, sobretudo aos que buscam o sacramento do Matrimônio.
Dos movimentos eclesiais, dois deles, aqui, são relevantes: O terço dos homens que, em média, reúne duzentos e cinquenta homens, de várias idades, e o movimento da Mãe Rainha três vezes admirável, envolvendo aproximadamente setecentas e cinquenta famílias, mas não afirmo com convicção a mesma presença na Celebração do Culto dominical e na santa Missa.
Temos uma população de idosos considerável, homens e mulheres que construíram esta paróquia e este município com o suor do rosto, agilidade dos braços e inteligência. São eles nosso maior patrimônio, e muitos deles assumem, ainda, a linha de frente em nossos trabalhos pastorais.
Excelência, estas são parte das preocupações que carregamos como fardo e que hoje, oportunamente, aqui apresentamos.
Sabemos que, pela própria identidade, a Visita Pastoral pretende sê-la também às outras instâncias da sociedade. Aqui se encontram as autoridades deste município que encabeçam os poderes, sobretudo o legislativo e executivo. Ambos abrem, com boa vontade, suas portas, reconhecendo em nosso Bispo o seu pastor, do qual esperam ouvir palavras de encorajamento aos constantes desafios.
Quanto a mim, padre Rinaldo, é a segunda vez que me dirijo a Vossa Excelência nestes termos, numa ocasião de relevância como a de uma Visita Pastoral. As circunstâncias se diferenciam, pois Mucugê, em abril de 2016, não é Dom Basílio, em julho de 2017, e o tempo não permite reprises de si mesmo. Mas uma coisa é certa, Dom Armando: aqui estou como seu colaborador, pronto como a ocasião pede, e tenho meus sentimentos, todos eles, nesta hora, presididos pelo bem querer que sempre reservei à sua pessoa.
Seja bem-vindo, Dom Armando.
Dom Basílio, 02 de julho de 2017.

Pe. Rinaldo Silva Pereira
Pároco e chanceler do bispado 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivo do blog